terça-feira, 12 de março de 2013

ARTE SACRA NO BRASIL COLONIAL


RESUMO
 
CAMPOS, Adalgisa Arantes. Arte Sacra no Brasil Colonial. Belo Horizonte: C/Arte, 2011, 143 p.
 
Cap. I: A consolidação da ocupação da Terra de Santa Cruz e a Cartografia
 
A autora faz uma contextualização da colonização portuguesa na terra de Vera Cruz e do processo da cartografia e sua respectiva contribuição à pintura sacra, a arte sacra.
O Estado português levou quase três décadas para investir num projeto civilizatório na terra de Vera Cruz, até 1500 apenas a região costeira teve uma ocupação humana e mesmo assim muita precária, só mais tarde quando são instituídas as Capitanias Donatárias e as medidas administrativas favoreceram a colonização, que ainda sofreu invasão por holandeses em Recife a partir de 1630.
A America portuguesa foi iniciada pelas costeiras, orlas marítimas; onde construíam fortalezas, cercas para defesa militar e para feitorias comerciais. Desse modo logo torna-se aparente que a cartografia estava a serviço do governo, dos militares e é desse contexto que vai se desenrolar parte da história da arte sacra.
Assim o material cartográfico da época que se manteve preservado em arquivos do Brasil nos possibilita ter uma noção dos núcleos urbanos dos séculos iniciais, através de ilustrações, mapas e projetos. Nesses documentos constavam limites territoriais, geográficos, aspectos urbanos e arquitetônicos, carregando muitas vezes uma influência lúdica e artística que enriquecia as informações.
Nesses mapas e projetos verificam-se aqueles que se aproximam da realidade histórica apresentando a expansão da colonização, formação de vilas, aruamentos, aldeamentos indígenas e o volume das construções. Já outra parcela expressiva das cartas cartográficas foi concebida sob uma orientação político-ideologica, com olhar fixado nas fortalezas e aspectos geográficos; contendo localidades de colônia americana portuguesa que se concretizavam e diversos aspectos do processo de ocupação territorial.
Já sob um ponto de vista artístico a cartografia tinha uma preocupação com a beleza plástica, brilho, cores, elementos decorativos, volumes e texturas, sempre aplicados em suporte papel ou pergaminho. Os mapas eram confeccionados por cartógrafos, engenheiros, geógrafos e cosmógrafos e também por autodidatas. De acordo com cada criador a composição plástica era mais ou menos criativa, dependendo do preparo profissional e/ou liberdade de imaginação. É válido ressaltar que o reino português contratava os profissionais mais renomados nacionais e internacionais.
O período colonial foi glorioso para a cartografia, onde incursões militares encomendavam trabalhos aos desenhistas, ilustradores e cartógrafos. As ilustrações de construções militares – fortes, quartéis, casas de câmara, cadeia e casa de governador eram muito bem representadas nos mapas, transparecendo a ordem pública.
Nos séculos XVI, XVII e XVII é comum também a representação religiosa nas cartas cartográficas; como igrejas, capelas, conventos e clautros. Os edifícios religiosos auxiliavam na segurança; por terem o pé direito alto, torres sineiras e campanários construídos de pedra e cal.
No grupo de renomados profissionais contratados pode-se citar João Teixeira Albernaz, que registrou aspectos físicos da região de Olinda e Recife e monumentos do século XVII, como os conventos de São Francisco, do Carmo e de São Bento. Esse profissional tem a característica da vivacidade das cores verde, vermelho, azul e ocre. Pois o cartógrafo não se limitava ao simples registro da realidade externa, razão pela qual eram contratados pelos funcionários da administração portuguesa, ou seja, para fixar limites territoriais, conhecer e controlar o crescimento urbano. Naquela época valorizavam-se os aspectos naturalistas, neste sentido os artistas empenhavam-se para imitar a realidade externa.
Alguns artistas atuaram numa época posterior aquela do levantamento topográfico, o que permitiu confeccionar mapas sob uma concepção erudita e de qualidade plástica, como foi o caso de Caetano Luis de Miranda. Assim também foi com o entalhador Inácio Ferreira Pinto contratado para os serviços de talha no Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro e o pintor Manoel da Costa Ataíde que 1818 pediu licença ao Rei para ministrar aulas de desenho na cidade de Mariana. Deve mencionar também o célebre cartógrafo Jozé Joaquim da Rocha que se destacou pelos ornamentos botânicos nas cartas da comarca da Capitania das Minas. Assim também a pintura de Manoel Ribeiro Rosa feito em 1805 no forro da sacristia da Capela da Ordem Terceira do Carmo de Vila Rica.
A autora ressalta que as pinturas de sacristias têm preceitos religiosos, mas são mais livres, do que os situados na capela-mor e da nave. Certamente por isso, são freqüentes detalhes de rios, capoeiras, matas, pontes e casas.
Dessa forma nota-se que a cartografia beneficiou a pintura sacra, deixando inúmeras contribuições artísticas e valioso patrimônio histórico. Mas a autora deixa claro que essa questão precisa ser estudada com mais tempo e critério.
 
Cap. II: O padroado, o mecenato régio, a organização eclesiástica e o tempo sagrado
            Sacerdotes seculares e frades da Regra de São Francisco acompanharam a expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500, mas no território basílico ficaram apenas dois cristãos degredados; entre 1500 e 1530 a America Portuguesa foi povoada por náufragos e degredados.
            No entanto portugueses que se estabeleceram no ultramar conservaram a fé cristã e as tradições do culto católico. É dessa forma que a Igreja católica no Brasil vai carregar todas as características portuguesas de expressar a fé cristã.
            Os padroados daquela época, quase sempre os fundadores das capelas erguidas, igrejas, hospitais e conventos, recebiam honrarias e privilégios em razão dos investimentos feitos. Essa expressão padroado surge exatamente com o significado de tutor, protetor, fatos que misturavam as coisas de Deus com a dos homens. A aliança política era fundamental naquela época, inclusive o Papa chancelava os descobrimentos marítimos das grandes potências européias, submetendo a uma unidade e ortodoxia religiosa, num embate contra muçulmanos, judeus, protestantes e religiões tribais, demarcando territórios descobertos.
            Inicialmente o território basílico dependia da diocese portuguesa localizada em Funchal, bem mais tarde D. João III crio uma diocese própria, que ficava em Salvador no ano de 1551. Assim o rei concentrava em suas mãos a jurisdição espiritual e eclesiástica. Já durante o reinado (1706-1750) de Dom João V, muito cristão e cumprindo com as obrigações de padroado, ele ofereceu a igreja todo suprimento necessário, pagou espórtulas aos reverendos vigários e até mesmo pagou muitas missas pelas almas anônimas do purgatório. O mesmo ainda contribuiu com construções de igrejas, capelas e paróquias. Com tudo isso Dom João V foi considerado um rei beato e mecenas, pois tinha grande inclinação para as artes, letras, cultura e religião.
 
O Clero Regular e o Secular
            Durante o período colonial era freqüente o uso do termo “regular” que designava religiosos que fizeram votos solenes em alguma congregação cristã, regida por uma regra, como as regras de São Bento, Santo Agostinho, São Francisco e Santo Inácio. A regra refere-se ao pensamento e fundamentos no ideário do santo fundador, compreendendo-se as formas doutrinárias, teológicas, vivências, orações, cantos e ritos que ao longo dos séculos acabam por constituir-se em um valioso patrimônio cultural e artístico das comunidades monásticas. Os membros regulares são denominados frades, irmãos e freis. Naquela época a comunidade monástica se estabelecia em uma divisão regional, denominada “Província”.
            O clero secular é aquele que vive no século e tem permanente contato com os fiéis, e se estabelece numa diocese; uma divisão regional. O sacerdote habita a paróquia, também chamada de freguesia; onde prega e ministra os cincos sacramentos: batismo, eucaristia, penitência, matrimônio e extrema-unção. A crisma é especialmente reservada ao bispo. O clero secular compreende diferentes graus hierárquicos: diácono, presbítero ou sacerdote, e o bispo que fica no vértice da pirâmide. O conjunto de sacramentos e ritos propiciou a encomenda de uma série de obras artísticas, que atendiam ao culto católico. Até o Concílio do Vaticano II – 1962 o sacerdote se distinguia do pároco porque usa vestimentas apropriadas à função, no caso a Batina ou sotaina. O sacerdócio exige formação especifica estudos em seminários e depois é ordenado pela respectiva autoridade que coordenava a diocese inteira, fosse um padre ou o bispo. O clero diocesano podia receber esmolas, doações por serviços religiosos, bem como possuir bens moveis e imóveis. Assim sacerdotes chegaram possuir residências bem construídas, como foi o caso do Padre Toledo, em Tiradentes/MG.
            Dioceses instituídas pelo território americano português: foram instituídas sete dioceses durante o período colonial nas seguintes regiões;
            Bahia – 1551
            Pernambuco – 1676
            Rio de Janeiro – 1676
            Maranhão – 1677
            Pará – 1719
            Mariana – 1745
            São Paulo – 1745
            Essas dioceses constituíram conjuntos arquitetônicos, objetos de ordem religiosa e paramentos feitos artesanalmente. Integrados a altares, pinturas de forros, barrados de azulejos, lavados, pias batismais e de água benta; expostos à adoração em capelas, igrejas ou conservados em museus. Essas peças são muitas vezes utilizadas em grandes festejos como os da semana Santa e do Corpus Christi.
            O ano litúrgico contém o tempo comum, com cerca de 33 a 34 semanas, voltado para o culto santoral, devoção ao mortos, festas de Nossa Senhora, o ciclo natalino e o ciclo pascal. O natal se constituiu conservando tradições de festas pagãs. O natal é comemorado em 25 de dezembro porque em Roma nesta data comemora-se a festa do deus sol invicto, e Jesus é a nova luz o novo sol do mundo. Da mesma forma o ciclo da Paixão e da Ressurreição é móvel, Carnaval, Quarta-feira de Cinzas, Semana Santa, Tríduo Sacro e Domingo de Páscoa são datas móveis. O domingo é o dia do Senhor e são considerados mini páscoa.
            O ano litúrgico é composto de varias festas, contudo as mais importantes são centradas na figura de Cristo.
 
Cap. III: Cultura Artística – a Companhia de Jesus e os Beneditinos
            Esse capítulo aborda as ordens regulares e suas características, bem como suas contribuições artísticas- culturais na arte sacra. No aspecto do mecenato podem-se definir duas modalidades: quando a ordem encomendava a obra ao artista, desde desenhos arquitetônicos, talhas, esculturas, pinturas e policromia, ourivesaria, musica entre outros. Eram realizados contratos registrados em livros contábeis da própria instituição. Em outros casos a igreja apoiava o talento em potencial para as artes. Os artistas deviam conhecer as invocações de cada ordem, e permaneciam enclausurados atendendo a demanda do estabelecimento.
A Companhia de Jesus
            A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio Loyola, reconhecida pelo papa em 1540, naquele contexto histórico cristianizar significava colonizar, considerando que os lusitanos tinham um papel messiânico.
            Os jesuítas foram os que mais consagraram à obra pedagógica junto aos jesuítas, dedicaram-se a catequese, a evangelização e a moralização dos costumes.
            Em 1549 os jesuítas começaram a se instalar no continente, liderados por Manoel da Nóbrega e mais tarde pelo espanhol José de Anchieta (1543-1597). Esses religiosos se pautaram na durabilidade das obras arquitetônicas, utilizando pedra e cal, prática introduzida na segunda metade de 1500.
            As artes visuais da época baseavam-se no uso das estampas, gravuras e tratados. Tendo afinidade com a arte italiana, exceto a concepção arquitetônica que tinha influência espanhola.
            Os jesuítas tinham uma capacidade incomum de adaptação ao meio, e tiveram que enfrentar conflitos, com aqueles que defendiam a liberdade indígena. Os jesuítas tiveram de introduzir algumas novidades para adaptar a eficácia da evangelização, inserindo ao culto, o coro longo na entrada, nave retangular, púlpito em destaque e a capela mor bem visível. Segundo estudos de Sônia Gomes Pereira, foram encontradas 34 plantas em cruz latina, 22centralizadas e 246 plantas que combinavam nave única com cabeceira centralizada. Assim também a ordem inaciana não abandonou aspectos da tradição medieval, tendo seu estilo batizado de “jesuítico”. Os jesuítas também se caracterizavam por uma funcionalidade em suas edificações, que atendiam a vida religiosa, aulas, trabalho e formação religiosa dos missionários. Suas edificações eram em praças amplas, dispostos em quadras que envolviam igreja, residência e colégio.
            Muitos núcleos coloniais devem sua origem à atuação dos jesuítas, seus educandários como na colônia de Sacramento no RS, Colégio de Sete Povos das Missões - RS, Colégio de São Alexandre – PA, São Tiago-ES, o de Salvador-BA e o São Luiz no Maranhão.
            A Ordem Beneditina
A Ordem Beneditina foi fundada por São Bento em 480-543, considerado o patriarca da vida monástica na Itália no século VI. Na companhia de sua irmã gêmea Santa Escolástica que dedicou-se a criação de conventos femininos. Os Beneditinos se estabeleceram na Terra de Santa Cruz em 1581 mostrando preferência pela orla marítima. Já a ordem feminina chega mais tarde implantando seus conventos somente a partir do período republicano. Os estabelecimentos masculinos foram construídos em:
Salvador – 1581
Rio de Janeiro – 1586
Olinda – 1592
João Pessoa – 1596
São Paulo – 1598
Santos – 1650
Sorocaba – 1650
Jundiaí – 1668
Santo Amaro da Purificação – início do século XVII
Algumas edificações alcançaram a categoria de abadia, sendo o abade seu administrador pelo tempo de três anos. Em Salvador estava estabelecida a sede da Província Beneditina no Brasil, submetida à sede portuguesa, quando em 1827 constituiu sede própria.
O Mosteiro Beneditino de São Martinho de Tibães permitiu acesso de membros cultos da ordem. Consta que Frei Gregório de Magalhães – arquiteto, professor de filosofia e Doutor pela Universidade Coimbra, foi abade provincial e reitor dos colégios de Lisboa e Coimbra. Ele teria traçado plantas dos mosteiros de Salvador, São Paulo e Santos. É relevante mencionar o zelo beneditino pela cultura, literatura e vocação humanística. E assim acompanhavam a confecção das obras, bem como concebiam projetos arquitetônicos monásticos e temas iconográficos. Os mosteiros luso-brasileiros possuíam mão de obra artesanal e artística própria. No Mosteiro do Rio de Janeiro os “escravos da religião” demonstração especializações em canteiros de obras, carpintaria, ferreiros, oleiros, marceneiros, serradores, encadernadores, pintores e douradores.
A planta da igreja apresentava nave ampla, capelas laterais comunicantes, capela-mor profunda e sacristia, tendo em anexo o claustro. O frontispício era maciço e austero, com uma ou duas torres e frontão triangular ou curvo. Na parte inferior três arcadas, denominado galilé.
A Regra Beneditina destaca-se pela oração, contemplação e meditação, e o trabalho a serviço de Deus – “Orai e laborai”, orar e trabalhar. O voto de pobreza, castidade e obediência compõem os votos solenes, além do voto especifico de “estabilidade”.
O estilo artístico não tem sincronia com as concepções européias da época como o maneirismo, barroco e rococó. Destacam-se aspectos medievais nas construções, demonstrando traços de austeridade e solidez. Profissionais externos também se destacaram como os entalhadores José da Conceição e Simão Cunha, o pintor e dourador Caetano da Costa Coelho. No convento de Salvador frei Macário de São João trabalhou no ofício de Arquitetura até falecer, atuo também na concepção da Capela de São Brás no Recôncavo Baiano. Na imaginária luso-brasileira relacionada aos beneditinos destacam-se três escultores: frei Agostinho da Piedade, Agostinho de Jesus (carioca), e Domingos da Conceição afeito ao entalhe em madeira. Frei Domingos deixou quatro imagens de Nossa Senhora de Monserrate, São Bento e Santa Escolástica no mosteiro do Rio de Janeiro. Na obra de Agostinho a austeridade foi substituída pela doçura e graça e as vestes comportavam pregas mais largas.
Os beneditinos passaram pelas mesmas vicissitudes que as demais ordens religiosas, durante o período pombalino e imperial, e viram suas congregações definharem até serem socorridos pelos belgas em 1895 impedindo a extinção da ordem na América Portuguesa.
 
Cap.IV: CULTURA ARTÍSTICA E RELIGIOSA – a Ordem Franciscana e Carmelita
 
                                                           A Ordem Franciscana
 
            O fundador da Ordem dos Frades menores e das Clarissas foi São Francisco entre 1181 e 1226. Viveu num período rodeado de mudanças sociais com incrementos das transações monetárias, empréstimos e juros altos, engajou-se em batalhas, ficou enfermo e encarcerado. Mais de volta a casa de seus pais em Espoleto, quando recebeu revelações espirituais, converteu-se e decidiu viver os ensinamentos de Cristo, despojando-se de bens materiais e partiu em peregrinações para pregar o Evangelho.
            A Ordem franciscana valorizava a figura feminina e a participação dos leigos. Assim criou-se a Ordem Segunda Franciscana ou das Clarissas, e foi regida a regra dos terceiros. No século XII foi instituída a doutrina do purgatório, solução medianeira encontrada pela igreja para equilibrar a punição definitiva e a salvação eterna da alma. A confissão tornou-se um sacramento privilegiado para exame individual. Esse contexto histórico religioso contribuiu com a iconografia representada nos azulejos, pinturas, talhas, esculturas da ordem franciscana, que passou a valorizar os rituais de purificação e expiação do pecado. Os franciscanos também ressaltam através da iconografia o – crânio como lembrança da morte; o rosário – a necessidade de oração, o silício, a cruz os martírios de Cristo e a necessidade de penitência.
            A devoção maior da Ordem Franciscana é a respeito da Paixão do Nosso Senhor Jesus Cristo. O que marca os conjuntos escultóricos nas capelas-mores. Como coloca Adalgisa:
                                                              Francisco não seguiu a tradição devocional do Românico, que destacava o Cristo Juiz (ou Pantocrator). Extremamente transformador, ele valorizou a representação do Menino Deus humilde em uma manjedoura. Em 1220, na cidade de Gréccio (Itália), o fundador da Ordem conclamou a comunidade para adorar a divindade criança através da armação de um presépio. Tal devoção natalina teve sucesso absoluto no Renascimento e no Barroco, chegando inclusive ao dias atuais. ’’ (CAMPOS, 2011)
Essa tradição Franciscana instituiu-se em Ouro Preto em meados do século XVIII, e manteve-se tanto nas igrejas e depois nas residências. O Museu da Inconfidência ainda guarda em seu acervo algumas peças do presépio atribuído Antônio Francisco Lisboa. Infelizmente restaram apenas um pastor, pescador, um pajem e o Rei Mago Gaspar.
Os franciscanos não se estabeleceram imediatamente no continente luso-americanos, apesar de acompanharem a expedição de Pedro Álvares Cabral, e dependerem da Província de Santo Antônio de Portugal até 1584 quando criou-se no Brasil a Custódia de Santo Antônio do Brasil com sede em Olinda. Em 1659 criou-se a Custódia de da Imaculada Conceição no Rio de Janeiro; em 1740 a Custodia de Santo Antônio no Brasil responsável pelos conventos do Nordeste, contava com 13 missões, 1 hospício e 13 conventos. Desses conjuntos edificados, todos são da segunda metade do século XVII, definidos grosso modo em 2 modelos : o Ipojuca (Pernambuco) e o Cairu (Bahia). O modelo Ipojuca o mais tradicional ou clássico é caracterizado pela austeridade, despojamentos de adornos, presença de 3 arcadas formando o galilé, frontão triangular, janelas retangulares na altura do coro e torre recuada com arremate bulboso. O modelo Cairu foi adotado em Paraguaçu, João Pessoa e Recife, comumente reconhecido como Barroco, possui semelhanças ao estilo clássico, contendo frontões curvos, complexo arquitetônico com a igreja, capela para terceiros, claustro, celas, biblioteca, refeitório e cozinha, mas que eram construídos aos poucos ao longo das décadas, daí a ocorrência de etapas construtivas com ornamentações do Barroco e Rococó, incluindo retábulos em neoclássico. E os dois grandes expoentes desse estilo foram Antônio Francisco Lisboa e Manoel da Costa Ataíde.
Os franciscanos tiveram grande importância na formação cultural brasileira, logo atrás dos Jesuítas, os frades foram educadores, missionários e se preocuparam com os leigos.
                                         A Ordem Carmelita
 
A Ordem Carmelita de origem lendária e mística, tendo sua regra da Ordem Conventual dos Carmelitas Observantes aprovada pelo Papa Honório III EM 1226. O membro mais ilustre da ordem foi o inglês Simão Stock, fundador de conventos e da Ordem Terceira dos Carmelitas. Segunda a tradição Stock teria recebido uma revelação que seria o escapulário de Nossa Senhora e a recomendação que o uso desse objeto livraria as almas do inferno e até aquelas do purgatório.
Mais tarde em 1594 houve uma dissidência no interior do Carmelo, criando-se a Ordem dos Carmelitas Descalços ou Teresinos. Essa ordem tinha o preceito de voltar a primitiva observância, através dos votos de fé, esperança e caridade. Os fundadores do Carmelo reformado foram Teresa de Ávila e João da Cruz, isso entre 1515 a 1591 – dois santos cultos, autores de vasta obra mística.
Tanto os carmelitas descalços como os da observante vieram a território americano português. Os primeiros em 1580, liderados pelo Frei Bernardo Pimentel, onde logo ergueram conventos e hospícios, pois o momento estava propicio em razão da União das Coroas Ibéricas. As regiões que estavam localizados eram: Olinda, Recife, Goiana, São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe, onde atualmente pertence ao mosteiro de São Bento; Paraíba, Bahia, Maranhão, Pará e Vitória.
Os carmelitas preservavam a tradição monástica herdada da Idade Média, com igrejas e conventos robustos e sólidos, contendo fachada com galilé e torre sineira.
Os reformadores, Teresa D Ávila e João da Cruz tiveram preocupação com a austeridade e modéstia das construções. Teresa estabeleceu medidas precisas para as construções, que constituíam o Cânon da ordem. Sendo que na America Portuguesa não se sabe se essas medidas foram seguidas com precisão.
Sabe-se que no âmbito cotidiano cristão, na America Portuguesa as Ordens Terceiras, foram responsáveis por um mecenato artístico, que envolvia mão de obra para arquitetura, talha, escultura, pintura, douramento, e musica entre outros. A celebração de ritos litúrgicos implicava em gastos com decorações, compra de velas, musicas, encomendas de sermões, tudo dedicado as solenidades e cortejos a Nossa Senhora do Carmo e das cerimônias quaresmais – Procissão do Triunfo (Domingo de Ramos) e Procissão do Enterro (Sexta-feira da Paixão).
As ordens religiosas em geral, e também dos carmelitas foram prejudicados a partir do Reinado de D. Maria I (1777-1816) que proibiu a aceitação dos noviços, o que causou envelhecimentos e esvaziamento dos conventos, caindo em decadência no século XIX, período que causou deterioração desse rico patrimônio colonial. Essa situação só começou a ser revertida quando o Estado ou a diocese assumiu a responsabilidade sobre os monumentos religiosos.
 
 
Capitão V: O MECENATO DOS LEIGOS – ORDENS TERCEIRAS, IRMANDADES E RELIGIOSIDADE POPULAR
 
As Confrarias
Na modernidade a vivência religiosa foi marcada pela fundação de ordens terceiras e irmandades, tratados de confrarias. As confrarias foram assimiladas ao processo modernizador da reforma espiritual, foram também importantes instrumentos catequéticos, ensinavam orações, os pecados capitais, virtudes cardeais e teologias de fé, esperança e caridade. Os sete sacramentos, mandamentos, exame diário de consciência, bem como a prática de confissão e comunhão.
As ordens terceiras eram compostas por leigos, casados e solteiros, que seguiam os preceitos da ordem franciscana ou carmelita, sem fazer os votos solenes. Eles não tinham vínculo com ordem monástica. Mantinham o aspecto devocional e dedicavam-se ao culto dos santos, anjos, Nossa Senhora e do Cristo. Os membros agremiavam-se por critérios étnicos, sociais e profissionais. E eram fiscalizadas pelas autoridades diocesanas e possuíam uma mesa administrativa eleita anualmente, que era composta de irmão-provedor, escrivão, tesoureiro e 12 mordomos que contribuíam com taxas promocionais. Em contrapartida recebiam um número maior de missas em caso falecimento e o irmão provedor era sepultado na capela mor do templo.
As confrarias prestavam serviços piedosos como socorro em caso de doença, viuvez, desgraças pessoais, enterros solenes entre outros.
O aspecto normativo investigava a origem de seus agremiados não permitindo que mouros e judeus participassem das irmandades e ordens terceiras.
As ordens terceiras e irmandades formaram importantes mecenatos artísticos na colônia e algumas associações possuíam até templo próprio. A documentação produzida pelas confrarias também eram bem conservadas e armazenadas pela paróquia, pois seus livros eram regularmente vistoriados por episcopais, que observavam se as confrarias estavam honrando seus compromissos no aspecto de despesas, receita e registros. Vistoriados também o cuidado com cemitérios, templos, altares e sacrários entre outros. As confrarias dinamizavam a vida social da colônia, organizando festas religiosas, prestando assistência à comunidade e realizando obras de caridade.
 
O Peregrino e a crença no milagre
 
A veneração interior era expressa através de formas cultuais e rituais, que constituía um conjunto de deveres e obrigações do devoto. Uma vertente devocional era manifestada através de romarias, promessas, procissões e festas dedicados aos santos com caráter eminentemente social e popular. No entanto protestantes, pensadores e elites clericais, criticavam esse catolicismo devoto, considerando supersticiosa essas manifestações.
Na época moderna a beleza cultual era imprescindível. A concepção cristã acredita que economizar no sagrado, é não confiar na providência divina. Assim foram produzidos muitos objetos para o culto no contexto colonial.
Também realizavam-se peregrinações a lugares altos, de difícil acesso e itinerários que geravam estabelecimentos de férias  e o aumento de albergues. Nesse contexto pode-se destacar alguns centros de peregrinação que se destacaram-se: o Sepulcro de Jesus na Terra Santa, Roma, Basílica de São Francisco em Assis na Itália, Santuário de Santo Antônio de Pádua, a cidade de São Tiago de Compostela na Espanha, Igreja do Bonfim em Salvador, Santuário de BOM Jesus de Matozinho de Congonhas – MG,  Santuário de Nossa Senhora da Piedade em Caeté – MG, Santuário de Bom Jesus de Matozinhos em Bacalhau – MG. Os fiéis costumavam agradecer aos milagres recebidos através tábuas votivas. Essas tábuas pintadas e outros objetos votivos eram colocados no santuário. Também erguiam-se ermidas, capelas e santuários em razão de voto feito. Tais momentos são considerados ex-votos, como é o caso da capela primitiva do Santuário de Congonhas-MG. A única forma de se estudar os ex-votos é considerando eles mesmos em sua materialidade, significação e iconografia, ou a partir de um contexto sócio cultural. Quanto à autoria é raro decifrar, a não ser por comparações com a linguagem específica de pintores previamente estudados.
 
           
 
 
 

 

Tasselo - Molde em Silicone e Gesso


 Confecção de forma em silicone, para fazer peças em gesso.





São Benedito em Gesso